"La Antena" e a influência da mídia

Nós perdemos a voz, mas ainda temos as palavras

    O nome "La Antena" retrata uma cidade em que os habitantes perderam suas vozes. Como se não bastasse isso, o Sr. Tv - dono de uma emissora de televisão que controlava a vida na cidade -planejava algo ainda mais bizarro: roubar as palavras. Dessa forma, consolidaria, ainda mais, seu domínio sobre a população. A única esperança era um menino cego chamado Thomás. Com a sua voz o monopólio da televisão poderia ser quebrado.

    É evidente que, embora distópico, o filme propõe críticas aplicáveis no mundo atual. Ao representar um canal de televisão que controlava desde o lazer até a própria alimentação das pessoas, a obra cinematográfica sugere uma reflexão acerca do poder dos meios midiáticos. Vivemos em um mundo em que as dependemos da mídia para receber informações. Notícias, propagandas, publicidades, filmes e programas de TV são elementos midiáticos que fazem parte da nossa vida e que influenciam, de uma forma ou de outra, nosso modo agir. Quantas ideologias e posicionamentos políticos são expandidos, em massa, pela mídia? Quantos hábitos alimentares e consumistas são adquiridos pelo bombardeamento de publicidades? Quantas modas tem a sua origem na televisão? Ás vezes nos esquecemos, mas grande parte da conduta humana é mediada pelos meios de comunicação. 

    É exatamente por isso que precisamos evitar monopólios midiáticos. No filme, observamos uma situação em que uma cidade estava completamente dominada por uma única rede de televisão. E qual foi o resultado? A alienação da população, que vivia sem questionar o autoritarismo que a submetia. Na vida real, não é tão diferente. Como as mídias não são dotadas de completa neutralidade (afinal, a própria escolha das notícias que serão televisionadas já é subjetiva), é crucial que existam diversas fontes, com diferentes posicionamento e linhas de pensamento. Só assim as diversas visões de mundo ganham espaço e a população se torna menos vulnerável à manipulação.

    Outro aspecto a ser ressaltado é o uso das mídias em regimes totalitários. No filme, o domínio do Sr. TV pode ser comparado ao de um ditador. Esse indivíduo, dominando o único meio de comunicação da cidade, era capaz de controlar a vida dos habitantes. No mundo real, a situação é bem parecida. Diversos governos autoritários e/ou totalitários usaram na mídia como meio de manipular a população. No governo de Hitler, Stálin e, até mesmo, de Vargas no Estado Novo, o monopólio e o controle dos meios de comunicação foi essencial à promoção da imagem do governo e ao combate da oposição. Isso reforça, ainda mais, o poder dos meios de comunicação e a importância da variedade de vozes nos canais midiáticos.

    No Brasil atual, embora o monopólio midiático não seja, nem de longe, tão grande quanto o representado em "La Antena", ele é marcante. No país, cinco famílias controlam metade dos 50 veículos de comunicação com maior audiência. Isso evidencia que precisamos de mais variedade na mídia, porque o monopólio e a alienação se complementam quando se trata de mídia. 

Resumindo: precisamos ser críticos. Não podemos deixar que nossa voz seja anulada pelo que vemos na televisão. Nossa opinião também é importante. Precisamos, também, combater monopólios, pois uma mídia transparente e realmente informativa exige a presença de múltiplas linhas de pensamento. 

Extra:

- Confesso que algumas cenas do filme me deram medo (achei ele bem macabro...). 

Ex 1: cena do bonequinho estranho controlando a fábrica que ficava na antena (não entendi direito aquele bonequinho. Parecia um bebê, porque tinha uma chupeta, mas depois que morreu virou um adulto? Só sei que deu medo kkk).

Ex 2: pessoas gritando no final do filme.

Ex 3: cantora sem rosto desenhando uma carinha triste na janela. 



-  O que mais gostei no filme foi a edição e a trilha sonora! É incrível como que a música se encaixa perfeitamente nas cenas e as torna mais dinâmicas. Muito boa mesmo a trilha sonora 👍.

- A edição do filme é incrível também. O preto e branco, as músicas, os símbolos, tudo está associado à própria história. Muito bom!!


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