Nossas imagens, Flusser

    No texto "Nossas imagens", Flusser reforça e explica alguns aspectos abordados na palestra que assistimos anteriormente. O filósofo explica que a imagem, embora tenha surgido para servir como mapa de orientação do homem, muitas vezes, se interpunha na relação entre o homem e o mundo, encobrindo a realidade. Assim, a escrita linear teria surgido, justamente, para explicar a imagem, tornando-a transparente. Com a escrita, as imagens, ao invés de serem adoradas e mitificadas, podiam servir como mapas decifráveis novamente.

    Posteriormente, a partir da invenção da imprensa e da alfabetização nas escolas, os textos se tornaram baratos e acessíveis, de modo que as imagens foram expulsas para o campo das belas artes. Porém, com o tempo, os textos deixaram se explicar as imagens e passaram a focar em sua própria dinâmica interna, situação que os tornou cada vez mais conceituais. Consequentemente, as mensagens históricas e científicas contidas neles se tornaram pouco imagináveis ao homem.

   A invenção da fotografia, dos filmes e dos vídeos alterou novamente a dinâmica. As tecnoimagens se tornaram ferramentas para tornar os textos transparentes e libertar a humanidade da "loucura conceitual" criada com a popularização do texto. As tecnoimagens estariam, dessa forma, ilustrando o texto e tornando-o imaginável. 

    Entretanto, essas imagens produzidas por aparelhos não são puramente objetivas. Elas apenas pretendem que não são simbólicas. Os aparelhos "sugam" a realidade e, depois, irradiam-na de volta para fora, traduzindo-a em imagens. Esse processo, entretanto, não fornece uma noção extremamente concreta do mundo real, visto que nem tudo é captado pelos aparelhos e nem tudo é expelido de volta por eles. 

    As questões abordadas na palestra voltam a aparecer, nesse sentido. Vivemos em um mundo amplamente dominado por imagens (em grande parte, tecnoimagens). Essa situação pode ser perigosa, visto que ao mediar a interação do homem com o mundo, as imagens se tornam poderosas e capazes de conduzir e programar os pensamento e as ações humanas. Por isso, precisamos estar conscientes de que as imagens não são a representação pura e concreta da realidade e da história. Elas não apenas a parte da realidade que foi expelida de volta pelos aparelhos tecnológicos. 


1) Como podemos associar essas ideias à espetacularização midiática? 

As mídias tem o poder de escolher quais imagens serão levadas ao público e de como isso irá ocorrer. Assim, é comum que a apresentação de fotos e vídeos em notícias seja acompanhada de discursos e que tornam a realidade em um espetáculo. 

Ex: jornais que exibem repetidamente notícias associadas a eventos chocantes, como casos de violência.

2) Como as redes sociais intensificaram esse processo relatado no texto? Como elas são afetadas pela câmera fotográfica? O que vemos em redes sociais é real?

As redes sociais expressa a busca das pessoas de construírem uma realidade ilusória. A partir do momento em que uma pessoa faz algo, como comprar uma roupa, só para ser fotografado e postar a foto em rede sociais, ela deixa de utilizar a foto como uma maneira de documentar a realidade. O indivíduo passa a agir com o simples intuito de fotografar a sua ação, o que não é espontâneo. 

Dessa forma, não podemos acreditar que tudo o que vemos em redes sociais é verídico. Se essas plataformas online fossem, de fato, uma maneira de tonar pública uma parte da vida pessoal, não veríamos apenas pessoas felizes e bem humoradas diante da câmera.

3) A imagem, antes da câmera fotográfica, realmente era fiel à realidade?

Acredito que não necessariamente. Não posso negar que a fotografia induz com mais força o indivíduo a acreditar que aquilo que ele enxerga é real. Porém, no passado, quando as imagens eram a única forma de representar graficamente o mundo, elas também tinham grande poder. Um artista, ao representar uma revolução, por exemplo, podia torná-la gloriosa, violenta ou pacífica de acordo com a sua percepção ou intenção. Consequentemente, indivíduos que viam a obra podiam acreditar que aquela imagem representava, de fato, o fenômeno retratado, mesmo quando esse não era o caso.

Extra: agora, com a possibilidade de editar fotos em aplicativos, a distância entre a realidade a a foto foi ampliada? Como?

Com certeza. Com a edição, as fotos podem ser completamente alteradas e transformadas em uma "realidade alternativa". É possível fazer colagens, mudanças no corpo, no clima e, até mesmo, no plano de fundo. Assim, a distinção entre realidade concreta e realidade imaginária se torna ainda mais ampla na maioria das fotos presentes nos meios de comunicação. 


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