Análise Hertzberger

 Análise da obra de Hetzberger / Percurso pelo centro de Belo Horizonte

    Nesse trabalho, percorremos um trecho do centro de Belo Horizonte, com o objetivo de identificar elementos associados à obra de Hetzberger “Lições de Arquitetura”. Nesse livro, o autor reflete sobre alguns aspectos relativos à arquitetura, os quais, muitas vezes, passam despercebidos na hora de realizar um projeto. 

    Nesse texto, apresentarei alguns conceitos de Hetzerbeger a partir de estruturas presentes no centro de Belo Horizonte.

Percurso: o percurso foi feito da Praça 7 de setembro até o Palácio das Artes, localizado na Avenida Afonso Pena.

Praça 7 de Setembro:

A praça 7 de setembro é muito conhecida em Belo Horizonte por apresentar o Pirulito da Praça 7, monumento em homenagem à Independência do Brasil. Em uma primeira vista, ela não teria muito usos, porque está numa área de cruzamento entre a Avenida Amazonas e a Avenida Afonso Pena. Mas, analisando com mais profundidade, percebemos que não é bem assim, visto que, no cotidiano da cidade, o local acaba ganhando funções. Percebe-se, por exemplo, que a praça, eventualmente, se torna ponto de encontro de pessoas, principalmente, quando envolve alguma mobilização, como manifestações políticas, campanhas ou até comemorações envolvendo futebol. As pessoas acabam subindo no obelisco ou sentando na base dele quando acontece esses eventos.

Então, é possível fazer uma associação com as ideias de Hetzberger sobre a forma e a polivalência. No livro, o autor explica que uma forma pode permitir várias interpretações em relação ao seu uso, sem perder a sua identidade. Seria possível, assim, criar uma estrutura capaz de acomodar diferentes situações e usos, dependendo da necessidade dos usuários. Por exemplo, a base de uma coluna, no cotidiano de um pedestre, pode ser interpretada como um assento ou um lugar para apoiar objetos. Dessa forma, ela se adequa a novas possibilidades.

No caso da Praça 7 de Setembro, observa-se que por ter um valor simbólico relevante, por estar numa área bem conhecida da cidade e, até mesmo, por ter uma base no entorno do monumento, ela acaba ganhando funções inusitadas, sendo que a maioria envolve a reunião de pessoas, seja para protestar contra algo, seja para comemorar algum acontecimento ou data especial.

No entanto, percebe-se um fator limitante no uso desse lugar. O uso individual ou o uso envolvendo poucas pessoas acaba sofrendo um pouco, porque o indivíduo pode se sentir vulnerável pela proximidade com os carros. A praça está bem no cruzamento de duas avenidas, o que cria um fluxo de carro contínuo e próximo do monumento. Consequentemente, há, possivelmente, uma sensação de exposição e de insegurança, que acaba prejudicando um uso no dia a dia.

A foto acima mostra que antigamente havia bondes que circulam ao redor da praça em uma posição mais distante e num trilho fixo. Isso, possivelmente, criava mais segurança, estimulando um uso casual do local. Ele era mais propício para o encontro de pessoas. Atualmente, ainda funciona como um ponto de em encontro, mas geralmente envolve algo mais formalizado, envolvendo muitos indivíduos, como a manifestação política. Não é algo informal do dia a dia.

Calçadão da Rua Rio de Janeiro:

O Calçadão da Rua Rio de Janeiro é um local de passagem que adquiriu novos usos no cotidiano da cidade. Observa-se uma apropriação do espaço público de acordo com os interesses dos usuários, que criam interpretações variadas acerca dos elementos existentes.

Exemplos da polivalência no calçadão da rua Rio de Janeiro:

- Venda de produtos por comerciantes, que dispõem um pano no chão e colocam suas mercadorias em cima dele. No caso, uma área de circulação se torna ponto de comércio. 

- Escadaria de um prédio foi usada como assento. As colunas servem de encosto para pessoas sentadas.  

- Plataformas elevadas no meio da caçada servem para comércio e para sentar. Há, também, pessoas que usam o local para andar de skate. 

Observa-se, assim, que, por ser largo e repleto de plataformas, o calçadão não serve apenas como espaço circulação. Ele estimula a ação do cidadão no espaço público e adquire novos usos, o que o torna um espaço “habitável”. Nesse sentido, a proposta de Hetzberger acerca de um espaço com polivalência e capaz de estimular o usuário foi atendida.

Texto apresentado em aula:

"Um dos conceitos abordados nos capítulos iniciais, por Hetzberger, é do espaço público, a rua é um espaço acessível a qualquer momento, apesar justamente por isso a rua é um espaço pouco apropriado pela população, a ideia de um espaço de todos tende a fazer com que ninguém sinta-se inclinado a realizar apropriação deste espaço. A influência dos usuários deste espaço precisa ser estimulada. Mas o estimulo deve ser apenas um convite não uma ordem projetar espaço com funções especificas pode ter o efeito contrario e limitar a liberdade em  apenas um uso, sem diversidade 

O calçadão da rua rio de janeiro é ótimo exemplo deste estimulo, as elevações e irregularidades da rua contribuem para apropriação do espaço, as elevações servem como bancos, mesinhas para colocar objetos e também funcionam com aquelas bancas de camelô".

Feira Hippie:

Uso do espaço público para comércio. A rua se torna palco de venda.

Texto apresentando em aula:

"Outra apropriação do espaço publico é a Feira Hippie. Diferentemente da Rio de Janeiro, a feira não precisou de um estímulo estrutural para acontecer. A Avenida Afonso Pena, onde ocorre a feira hippie não possui elevações, irregularidades ou sofre alguma mudança quando a feira acontece. O estímulo aqui foi diferente e está ligado a relação da feira com a prefeitura. No inicio a feira Hippie era feita na praça da liberdade e era feita na ideia de criar um espaço cultural, mas por causa do grande público a vegetação, as esculturas da praça começaram a ser danificadas. Assim, a prefeitura decidiu realocar a feira para a Afonso Pena. Os primeiros expositores e criadores da feira dizem que quando a prefeitura passou a intervir, a feira perdeu o foco cultural e passou a ser comercial e perdeu a qualidade de ser uma apropriação natural do espaço. Então, apesar de necessário, às vezes, a intervenção pode reduzir a qualidade do uso do espaço publico".

Normandy e Palácio das Artes:

Em “Lições de Arquitetura”, é indicado que a demarcação de espaços público e privados não precisa ser abrupta e rígida, com a simples presença de uma porta fechada. A transição entre ambientes diferentes pode ser feita com elementos arquitetônicos capazes de criar uma demarcação mais sutil.

Analisando o Normandy (hotel), o Supermercado Dia e o Palácio das Artes, observa-se que ambos os edifícios apresentam fachadas de vidro. Isso é muito favorável à conexão do espaço interior com o espaço externo, visto que os pedestres e os usuários dos estabelecimentos conseguem se ver mutualmente, caso desejem fazer isso.

Além disso, no Normandy há uma cobertura de vidro na entrada que contribui para a transição mais leve entre a rua e o prédio. Essa estrutura adquire, também, funções inusitadas e variadas no cotidiano da cidade, na medida em que serve como local de parada ou de proteção contra a chuva para os pedestres ou para os hóspedes do hotel.

Texto apresentado em aula:

"Assim como na escola Montessori em Delft, e na soleira elevada em frente à casa mostrados no livro, a marquise tanto do hotel quanto do palácio das artes representa essa transição e conexão, do interior mais privado e do exterior mais público, é um local então que pode ser usado de abrigo enquanto se espera um Uber por exemplo, se protegendo do Sol, da chuva e de certa forma uma sensação de segurança maior, outra coisa que contribui em passar essa sensação é a fachada envidraçada, um pouco mais no caso do Palácio das Artes, mas no Normandy também tem, que traz uma transparência e maior visibilidade de quem está de dentro pra fora e vice versa".

Banco Bradesco:

O Banco Bradesco apresenta uma fachada de vidro. Porém, como o vidro é escuro, a transparência é bem reduzida. Assim, a conexão com o mundo externo é menor se comparado com os edifícios analisados do tópico anterior. Isso tem certa justificativa, visto que o local é um banco e a menor transparência pode gerar sensação de segurança para as pessoas que sacam dinheiro.

Texto apresentado em aula:

"Então, por fim, o Banco do Bradesco, que fica próximo ao Palácio das Artes, tem uma demarcação territorial interessante Comparando, então, a parte de dentro do Bradesco com a rua, conseguimos perceber que o Bradesco possui menor acesso público. E isso fica bem claro quando olhamos esses painéis de vidro preto que restringem a visão do que está no interior da construção, dando assim a sensação de ambiente mais privado, menos acessível. Isso se encaixa nos conceitos de Hertzberger sobre o uso de materiais de acordo com os diferentes graus de acesso".

Entrada do Parque Municipal:

Próximo da entrada do Parque Municipal de Belo Horizonte, há uma estrutura branca que pode ser entendida a partir da ideia de polivalência. Ela é uma área coberta, cuja apropriação ocorre em função das necessidades das pessoas que passam na calçada. O local pode ser um ponto de parada para o pedestre ou um ponto de espera, por exemplo. Além disso, a cobertura contribui para a retirada da rigidez da transição entre o espaço interno, que está atrás da parede, e o espaço externo da rua. Esses aspectos recordam o livro “Lições de Arquitetura”, em que Hetzberger indica que a demarcação de espaço diferentes pode ser feita com elementos arquitetônicos que criam uma transição menos abrupta.

Palácio da Justiça:

O Palácio da Justiça apresenta uma grande escadaria, além de um espaço coberto entre os degraus e a porta de entrada. Essas estruturas acabam ganhando novos usos no dia a dia, visto que servem, respectivamente, como local para sentar e proteção em caso de chuva ou sol forte.

Texto da apresentação em aula: 

"Outro ponto que analisamos foi o palácio da justiça que fica na Avenida Afonso Pena. Esse lance de escadarias do edifício passa uma ideia de respeito a quem está entrando ou mesmo passando na rua e as pessoas podem até ficar intimidadas a entrar no lugar. Apesar disso, por mais imponente que a escada seja, a gente pode ver que ela pode ser usada de maneira bem informal, como é o caso do moço usando como assento para descansar. A gente relaciona esse acontecido, quando Hertzberg fala sobre como essas formas permitem interpretações diferentes. Enquanto a estrutura representa o coletivo, a maneira como é interpretada representa as exigências individuais, reconciliando assim o individual e o coletivo. 

Outro aspecto do palácio é a transição que ele tem do ambiente exterior com o interior. As escadas são a céu aberto e feitas com um material até parecido com o passeio, e depois temos um espaço coberto que é um intervalo entre esses dois ambientes, servindo para uma acomodação entre mundos. Por fim, a entrada para o palácio verdadeiramente. Assim, é apresentada uma sequência gradual de indicações mediante recursos arquitetônicos, assegurando uma entrada e saída graduais. Como enuncia Hertzberg, ao selecionar meios arquitetônicos adequados, o domínio privado pode se tornar menos parecido com uma fortaleza e ficar mais acessível". 

Grafites:

Texto apresentado em aula:

"Entrando agora na Rua da Bahia, tem algumas coisas interessantes que nós conseguimos relacionar com Hertzberger. Primeiro a gente conseguiu perceber que os grafites poderiam ser exemplos de uma forma do conceito de urdidura e trama. Isso porque existe essa parede externa que funciona como uma base, como uma estrutura coletiva que pode ser relacionada com a urdidura. E as pinturas são resultado de interpretações individuais sobre o uso dessa parede. Assim, elas podem ser relacionadas com a trama. E acaba que tanto a pintura depende da parede como a parede depende da pintura, porque a parede oferece seu potencial de base para o grafite e o grafite oferece seu caráter expressivo para a parede. Além disso, ainda tem essas lojinhas, que também podem ser relacionadas a esse conceito. E, também, tem a questão temporal. Ao longo dos anos, as pinturas foram mudando, mas a parede (base) continuou a mesma.

Por outro lado, no ponto de ônibus, existe uma extrema especificação do uso que uma forma tem. Isso serve de exemplo para o conceito de funcionalidade, porque o banco está exatamente ali para que as pessoas sentem e esperem o ônibus." 


















 

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